segunda-feira, 13 de julho de 2015

Diário de bordo da Rádio Escola no Ar - parte VII

Sétimo encontro, quase 2 meses de oficinas de rádio na EMF Prezideu Amorim. No post de hoje,  falaremos um pouquinho sobre o desenvolvimento do nosso Especial Manuel Bandeira com o 5º ano.

Elxs já chegaram pulando com o roteiro nas mãos! Não importa o tema, topam falar de tudo talvez porque desejem protagonizar no mundo - é a impressão que temos. Quando entramos na sala e somos recebidas com tanto carinho, pensamos no quão importante é não tomá-las como idiotas; o quão importante é levar um papo reto com a gurizada sem reduzi-las a uma linguagem imbecil.

Só para ilustrar o potencial revolucionário dos pequenos, apresentamos abaixo um vídeo que mostra a luta das crianças holandesas, na década de 1970, pelo direito ao espaço urbano, pelo direito de brincar na rua! É uma pena que não esteja traduzido, mas pelas imagens é possível ter uma compreensão geral do fato. Se acreditarmos na capacidade delas e lançarmos mão de textos desafiadores, talvez possamos construir uma abordagem literária que problematize o mundo tal qual ele é, sem máscaras.

Nosso tema agora é Manuel Bandeira e Tim Maia. Daí você nos pergunta o que os dois têm a ver. Nada, é a respostas. Mas, como as crianças estudaram o Tim nas aulas do gênero biografia, resolvemos inclui-lo na playlist e assim manter o diálogo com o currículo escolar. Inclusive, elaboramos um CD com vários vídeos do síndico do Brasil para construção de repertório musical. E foi tão bacana que uma aluna até trouxe um vinil dele para mostrar à turma.


Na aula de hoje, já com o roteiro em mãos, iniciamos uma convivência com os poemas de Manuel Bandeira que serão lidos durante o programa.


Exibimos esta performance de Trem de Ferro a fim de ajudá-los a perceber a relação entre as palavras e os sons, e também para terem uma referência de performance.



Outra coisa super bacana foi a escuta desse poema, na versão der  Tom Jobim e Olívia Hime. Pudemos exercitar nossos ouvidos percebendo as relações entre som e sentido, como o piano no ritmo do trem, o jogo de vozes, etc. Eles ficaram atentos e, pouco a pouco, reconheciam essa relação e arriscavam identificar os instrumentos. Acreditamos que é possível despertar nas crianças uma percepção voltada para as potencialidades sonoras do texto, e isso, lá na frente, facilitará a criação de   vinhetas e spots pro nosso programa.

Outros vídeos que exibimos
Esse vídeo teatralizado ajudou a compreender o contexto de palavras como pneumotórax, hemoptíse e ainda um importante dado biográfico do Bandeira, a tuberculose.




A onda é um poema interessante para explicar as assonâncias e como elas desenham sonoramente as ondas. 
Já os dois  vídeos abaixo foram mostrados para terem referências de outras crianças lendo poesia.





Atentar para os sons é algo pouco explorado nas aulas de Literatura na educação infantil, mesmo sendo a musicalidade uma forte característica da poesia brasileira. Para Maria Amélia Davi (2013, p.71),

o trabalho com a oralidade e com as formas populares frenquentemente não é visto como uma inserção no mundo da literatura. No entanto, ele é imprescindível: não apenas porque a literatura ajudaria as crianças a pensarem e a enfrentarem seus dilemas e problemas subjetivos, psíquicos, identitários, sociais; o trabalho com a literatura é fundamental também para que, a partir de práticas efetivas de aproximação do literário, as crianças percebam  a questão da sonoridade nas quadrinhas, nas cantigas, nos poemas infantis e nas trovas...

Ao apresentarmos esses poemas de Manuel Bandeira, desejamos expor xs alunxs ao contato com textos mais sofisticados para responder a uma inquietação em nossa pesquisa: o fracasso da leitura literária em sala de aula dá-se entre x alunx e a obra ou na forma da abordagem? Ou seja, na relação entre alunx e professorx?  A cada dia que passa, acreditamos mais que o problema não está na literatura.

Retomando ao início da aula...Todos com o roteiro nas mãos, iniciamos a conversa sobre o poema Porquinho-da-índia e mostramos algumas imagens para conhecerem esse bichinho tão simpático.




Feito todo esse trabalho de compreensão e imersão na obra, ensaiamos o roteiro, pontuando aspectos como dição, ritmo de leitura e performance. Aproveitamos para dividir a turma entre aqueles que queriam performar e xs que atuariam  na montagem da playlist, utilizando o programa ZaraRádio.

Houve bastante interesse delxs nessa parte técnica, pois muitxs têm como referência alguém da família que mexe com aparelhagem de som. E a festa só aumentou quando, dado o play, rolou aquele Miami Bass   no BG (música de fundo). 

Nosso ensaio transcorreu com alegria, muita agitação e interesse. De um lados xs DJs, de outro as apresentadoras e no centro os meninos recitando Manuel Bandeira. Na brincadeira de entrevistar xs colegas, um aluno, quando perguntado sobre o que mais tinha gostado no poema, respondeu: Irene preta. E assim, sem nos valermos do discurso de enfrentamento, suavemente vamos tratando das questões raciais - um de nossos focos.

Por hoje, é isso.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário