O ciclo de oficinas segue a todo vapor na Prezideu Amorim! Nesta edição, recebemos com muita alegria Aline Maria, cantora e integrante do Vice Verso, vindo nos dar uma palinha sobre Orientação Vocal. Durante a feitura do nosso planejamento, conversamos com ela sobre as dificuldades de leitura oral da garotada; e foi a partir desse diagnóstico que conduziu carinhosamente o encontro a seguir.
Aline Maria ensinando a projetar a voz.
As crianças do 5º ano foram ajudadas por ela na leitura do Auto da Compadecida, obra teatral de Ariano Suassuna. E ainda pegou o violão para fechar com graça!
Não poderíamos perder a oportunidade de pedir uma música, né?
Abaixo vocês podem conferir as impressões de Aline Maria sobre essa encontro a moçada da nossa rádio poéticoliterariaexperimental . Boa leitura!
Introduzi a
breve oficina questionando a turma sobre o que era a voz e como ela era
produzida no corpo, a fim de despertar a imaginação e o conhecimento do próprio
aparelho. A turma interagiu com respostas diversas, todas elas pertinentes e
apropriadas, como: “a voz é aquilo que a gente usa para falar”, mas o lugar
onde eu almejava chegar era na relação imprescindível entre o aparelho
respiratório e o aparelho vocal. Então expliquei aos jovens que a voz nada mais
era que o ar que nós respiramos transformado, porém, em som. E que, portanto,
para obter qualidade vocal era preciso buscar, antes, a qualidade respiratória.
A partir deste entendimento, progredimos para a prática.
Apontei a
respiração que comumente as pessoas desenvolvem ao longo da vida, que é
prejudicial não só ao bom funcionamento da voz, como ao bom funcionamento do
corpo: a respiração pulmonar. Pois, embora saibamos que o ar dirige-se
inevitavelmente para os pulmões, não é a região pulmonar que devemos expandir
para receber a respiração, isso é uma falsa impressão. Devemos, pois, expandir
a região torácica com o auxilio da musculatura abdominal. Essa respiração, quando desmistificada e
praticada, libera espaço para a administração de uma quantidade maior de
oxigênio que viabiliza maior possibilidade de uso e potência da voz. Feito
isso, praticamos alguns exercícios básicos de aquecimento respiratório e
seguimos com exercícios voltados para os demais segmentos da técnica vocal,
como aquecimento das cordas – com escalas melódicas básicas; articulação
(movimento dos lábios, expressão facial e parte interna da boca, sobretudo a
língua) e projeção vocal (direcionamento e intensificação da voz).
Aplicamos, em
seguida, no exercício de leitura do roteiro do programa que os próprios alunos
estão construindo. Já pude ali notar diferenças relevantes na colocação vocal
de cada um. As noções de respiração, em comunhão com as noções de pontuação
textual, permitem ao leitor uma apresentação mais dinâmica do texto, sem
ansiedade (qualidade comum dos adolescentes). Dessa forma, os alunos puderam
experimentar uma leitura mais articulada, onde
cada voz tem seu espaço de atuação que deve ser bem utilizado ao máximo.
Já com o 5º ano...
Já com o 5º ano...
Uma conversa inicial sobre aquecimento vocal
Com as
crianças introduzi de forma similar. Desde o princípio, porém, dadas as
diferenças de recepção e raciocínio, a metodologia utilizada foi outra.
Perguntei a
elas o que se entendia por voz; liguei o conhecimento da voz ao conhecimento da
respiração e destaquei a importância de se compreender nosso aparelho vocal
como um instrumento – igual a outros instrumentos musicais. Como instrumento, o
aparelho vocal exige cuidados e precauções: “Nossas cordas vocais são tão
sensíveis quanto às cordas de um violão”, expliquei. Igualmente importante foi
destacar as razões pelas quais se deve aquecer a voz antes de qualquer trabalho
vocal. Usei o ofício do professor como exemplo e aproveitei pra explicar como
pode ser prejudicial para a voz dos professores quando não há silêncio enquanto
ele ensina. Relacionei o aquecimento vocal ao aquecimento do atleta, antes de
entrar em campo, utilizando a metáfora do aviso: “O atleta, quando dá os seus
pulinhos e corridinhas leves e constantes, ele está acelerando a circulação do
sangue pra avisar ao corpo que o trabalho vai começar, para não pegar o corpo
de surpresa”.
A prática do
aquecimento vocal, no entanto, não teve muita relevância na oficina, uma vez
que as crianças se escondem atrás de um falso constrangimento automático para
não querer se expor. Fiz apenas uma dinâmica de escala melódica para iniciarmos
a leitura do texto dramático “Auto da Compadecida”.
A princípio as
crianças estavam, quase que em sua maioria, indispostas para a leitura (creio
que em função de, neste dia, a escola havia saído mais cedo e eles permaneceram
para a oficina). Sentamos no chão em círculo e iniciamos a leitura e, com o
tempo, elas foram se soltando. Um detalhe que auxiliou bastante a leitura das
crianças foram as intervenções das instrutoras na atuação da leitura (a
coordenadora do projeto Jamilla e eu). Melhor do que explicando sobre
articulação ou projeção de voz, quando líamos com vigor à nossa maneira, as
crianças sentiam-se estimuladas a se empenhar mais na própria leitura. Não foi
possível, portanto, desenvolver conceitos de técnica vocal com as crianças, uma
vez que o desafio maior das crianças é vencer a timidez e desbravar o mundo da
leitura. Ao final de nossa prática, todas as crianças envolvidas já estavam
mais familiarizadas com a leitura, por sua vez mais dinâmica.
Ao final,
cantei duas canções no violão, para descontrair, e foi um momento muito
delicado e agradável. As crianças ouviram com atenção e cantaram junto.
Ambas as
oficinas foram experiências muito ricas e, apesar da dispersão natural da
idade, as crianças demonstraram interesse de aprender e melhorar a própria
atuação. Foi muito gratificante.
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