quarta-feira, 22 de junho de 2011

5 minutos com Carol Ruas - A revanche do Novo Cinema Argentino

Provavelmente a maioria das pessoas que estão lendo este post já devem ter assistido a algum filme brasileiro nos últimos meses. Mas alguém aí se arrisca a dizer qual foi o último filme argentino que viram (ou se já viram algum)? Isso mesmo, filme AR-GEN-TI-NO. Deixando as rivalidades do futebol de lado, o Programa Vice Verso desta semana fez uma conexão com os “hermanos”. No quadro 5 minutos, a comentarista de cinema Carol Ruas falou sobre o destaque mundial do cinema argentino contemporâneo – como o premiado “O Segredo dos Seus Olhos” (foto) – e por que vale a pena conferir o que os nossos vizinhos estão produzindo.



Dá o play!





Leia o comentário de Carol Ruas ao pé da letra:

Historicamente, Brasil e Argentina sempre alimentaram certa rivalidade, se não no futebol, na economia ou em outras áreas que, por estarmos tão pertos uns dos outros, acabaram entrando na disputa.

Mas a rivalidade se dá também porque ambos os países passaram por momentos parecidos na história econômica, política e cultural. É o caso do cinema.

Assim como o Brasil, nos anos 90 a Argentina passou por grave crise econômica, regada a hiperinflação, desemprego e instabilidade política. Para a indústria cinematográfica portenha, da mesma forma que a brasileira, foi preciso atravessar grandes solavancos para se retomar uma produção estruturada.

Desse contexto surge o chamado Novo Cinema Argentino que, além da superação nacional, há pouco mais de uma década vem se destacando no cenário internacional.

O novo cinema argentino traz a sobriedade e o rigor estético portenhos em uma série de roteiros delicados e diretamente mergulhados nos costumes de uma sociedade marcada pela crise. E isso vem ganhando tanto o público quanto a crítica internacional.

Alguns dos cineastas que representam essa nova geração: Lucrecia Martel, Pablo Trapero, Daniel Burman, Juan José Campanella, Marcelo Piñeyro. São estes também nomes freqüentes no Festival de Cannes, de Veneza, de Berlim, e até mesmo o Oscar. No ano passado, o vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro foi justamente “O segredo de seus olhos”, de Juan José Campanella.

A inevitável comparação com o cinema contemporâneo brasileiro nos faz refletir que a produção argentina evoluiu se recuperando muito mais rápido (ou ao menos em maior escala). No Brasil, o Cinema da Retomada veio desencadear a era Globo Filmes como a mais bem sucedida da nossa cinematografia. Já na Argentina, o crescimento da produção está ligado diretamente aos estímulos do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (INCAA) e a multiplicação de escolas de cinema no país.

Na Argentina, foi criada uma lei que cobra taxa sobre a bilheteria dos cinemas, a venda de DVD’s e publicidade da TV – um recurso que vai direto para fomentar a produção nacional. Produção essa, inclusive, que hoje conta com uma rede de salas de exibição estatais, além das leis de incentivos e cotas de tela em salas comerciais. Isso tudo estimulou a produção, que saltou de 24 filmes lançados em 1997, para 69 lançados só em 2004, sendo que mais da metade dos diretores são estreantes recém-saídos da universidade.

Essas decisões políticas acabam refletindo diretamente na estética do produto. Enquanto na Argentina – onde a maioria das produções de destaque é de baixo orçamento – o foco está no cotidiano do indivíduo, o cinema brasileiro (com exceções) tenta compor um painel de sociedade em torno de uma teoria moral: o crime organizado, a polícia, a favela são temas de produções que querem demonstrar um quadro, mas só alcançam um julgamento moral de um ângulo distanciado da questão.

O resultado dessas políticas são filmes e diretores premiados nos principais festivais do mundo. Já no Brasil, mesmo o cinema de mainstream ainda não conseguiu chegar ao gosto da crítica internacional.

Se no futebol, brasileiros acumulam vários títulos a mais que os ‘hermanos’; na produção de cinema a Argentina se revela na vanguarda da estética cinematográfica mundial. É a revanche.


Você não pode deixar de assistir:


O Abraço Partido (2004) – Daniel Burman

Ninho Vazio (2008) – Daniel Burman

O Pântano (2001) – Lucrecia Martel

A Menina Santa (2004) – Lucrecia Martel

O Segredo de seus olhos (2009) - Juan José Campanella

O filho da noiva (2001) - Juan José Campanella

Família Rodante (2004) – Pablo Trapero


Carolina Ruas é jornalista, coordenadora de Comunicação do Fora do Eixo -ES e participante do Grav (Grupo de Estudos Audiovisuais - Ufes).

Fale com ela:

email: carolina.ruasp@gmail.com

twitter: @carolruas

Vice Verso poesia verbo áudio visual

Vice Verso poesia verbo áudio visual

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vice Verso Liberdade!

Liberdade, de Carlos Drummond de Andrade

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.

Liberdade, liberdade!Este foi & é o grito, a palavra poética, do Vice Verso desta quarta. Não à toa, nos últimos meses temos acompanhado as ações truculentas do Estado – munido com um de seus aparelhos repressores, a polícia – para impedir a livre manifestação, a LIBERDADE de expressão. Como resposta, de norte a sul do Brasil jovens se reúnem para marcharem ... mas, para aonde vamos? Temos direção? No programa desta quarta, reunimos uma voz do passado e outra do presente para uma discussão sobre o nosso tempo: o professor de Filosofia da Ufes Maurício Abdala e uma das representantes do Circuito Fora do Eixo ES, Kênia Lira. O bate papo rendeu bem, ainda mais porque tivemos a participação da poeta Renata Bofim, falando sobre seu último trabalho, o livro Arcano Dezenove, e o comentarista de literatura, Marcos Ramos, problematizando nossa palavra poética no contexto da produção literária contemporânea. Pra fechar a roda, Conrado Segal encerrou o programa com sua Marcha estudantil o jogo imbecil.

Se você perdeu, não se desespere! Calma alma minha, calminha, basta clicar no link PODCAST do nosso portal, o programaviceverso.com.br, e conferir o que rolou. Por aqui, segue o escrito. Hasta La vista & vamu que vamu, Riobaldo!!!!

Música: Liberdade! Liberdade! Abre as Asas Sobre Nós (Imperatriz 1989)


Música: Tom Zé - Sobre a Liberdade


Poema: Carlos Drummond de Andrade – Liberdade (na voz de Paulo Autran)

Música: As Chicas – Alô, Liberdade!


Música: Marcelo D2 – Baseado em fatos reais


Música: Casa das máquinas - Liberdade espacial


Elisa Lucinda - O poema do semelhante

quinta-feira, 9 de junho de 2011

5 minutos com Moisés Nascimento - Sobre monólogo e a peça Cárcere

O que é liberdade para você? Hum, achou a pergunta difícil? Talvez seja porque cada um viva a sua própria ideia de liberdade. Ou será que ainda vivemos em cárceres? Moisés Nascimento traz no comentário da semana esses questionamentos que são o tema central da peça O Cárcere, que estará em cartaz neste final de semana no Teatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória. O trabalho é do ator/diretor Vinícius Piedade, cujo texto é uma parceria entre ele e o já consagrado escritor e dramaturgo capixaba Saulo Ribeiro (mais informações sobre a peça no final do post). O assunto também rende uma reflexão sobre o monólogo e suas transformações ao longo do tempo. Tá esperando o quê? Dá o play e depois leia o comentário completo:





Tem mais 5 minutinhos? Moisés Nascimento fala mais
:

Se vemos a dramaturgia abrir-se para o monólogo, aceitando-o como uma das formas de expressão do teatro contemporâneo – principalmente a partir dos anos de 1950 (Vitória, inclusive, já teve um festival nacional só de monólogos), não era bem assim que acontecia épocas remotas, onde reinavam os teatros realista e naturalista. Isso porque, na dinâmica naturalista e realista, é inverossímil pensar numa personagem que, em diálogos consigo mesmo, numa representação do ato de pensar, por exemplo, fale em “voz alta”. “O homem só não fala em voz alta”, é o que dirão aqueles que pensam o teatro de forma sintética, como uma síntese da vida humana.

Monólogo, portanto, etimologicamente, é um discurso pronunciado por uma única pessoa. É o contrário de diálogo, que pressupõe duas vozes.

Por sabermos que o próprio teatro realista/naturalista fracassa na tentativa de não deixar marcas do criador/enunciador nos diálogos que ocorrem na peça – isto é, não há a menor possibilidade do texto vir a ser naturalista de fato, sem o dedo do ator ou do autor – podemos afirmar que também não existe monólogos sem diálogos com o Outro, ainda que este seja fruto da imaginação, do inconsciente. O monólogo, sobretudo no teatro contemporâneo, é uma representação da ficcionalidade do Eu; o Eu que fala dirige-se a um Eu ouvinte.

Pode ser que, no decorrer do espetáculo, apenas o Eu locutor se pronuncie. Todavia o que ouve está lá presente, ainda que invisível. Há sempre a necessidade dele ali presente. Uma coisa interessante de se dizer é que no o teatro contemporâneo, em que a quarta parede parece não ser mais necessária, muito desse diálogo é travado com o próprio espectador – não apenas com o intuito de estabelecê-lo, mas também de convocá-lo à realidade que vigora no palco.

Muito desses diálogos podem ser notados na peça Cárcere, um espetáculo por vezes cômico, mas que gera um riso dolorido, inquietante. É um monólogo de reflexão, em que a personagem, no caso um pianista, expõe seus dilemas, anseios e angústias vividas durante uma semana numa prisão. De dentro “do seguro”, lugar pra onde são enviados os presos jurados de morte por outros presos, o pianista, ao mesmo tempo em que narra fatos de sua vida dentro e fora do presídio, expõe, sem qualquer necessidade de uma lógica narrativa, o caos cognitivo e emocional que ali vive.

Mais do que um monólogo, Cárcere é um grande solilóquio, é um texto/encenação que se diverge da ideia dialógica do teatro naturalista, mas que mergulha na subjetividade e fragmentação do Eu. Através da proposta da prisão, de narrar um pianista enclausurado, Cárcere expande suas metáforas para a própria situação do sujeito contemporâneo, que, independente do ambiente que vive, está mergulhado num estado de sítio, de vigilância, de controle.

Para ficar em apenas um exemplo do texto, recorto aqui uma passagem bacana, em que o pianista troca algumas palavras com o carcereiro:

Viro para um carcereiro e peço sua ajuda, pergunto “o que é liberdade pra você?”. Ele, dando as costas, responde “liberdade pra mim é fazer o que vou fazer agora: vou pra casa!” Aí eu consigo dizer um “até amanhã” pra ele, que me olha feio, sabendo que vive os dias na cadeia e as noites em casa, num regime semiaberto ao inverso. Página em branco.

A situação do carcereiro, levada para o dia a dia, exemplifica muito do cotidiano do sujeito contemporâneo. Será que não vivemos numa prisão? Será que nós, efetivamente todos nós, não vivemos em regimes semiabertos? Ou talvez fechados? Ou talvez perpétuos?

Sabemos que o que move o mundo, segundo a máxima popular, não são as respostas, mas sim as perguntas. Portanto, o convite à questão está feito. Bora ao teatro, pois Cárcere estará no Teatro Carlos Gomes neste fim de semana: Sábado (11/06) às 20h, e no Domingo (12/06) às 19h.

Os ingressos podem ser adquiridos na cafeteria Kaffa (Rua da Lama), na bilheteria do teatro ou diretamente com a produção do espetáculo: (27) 8187-9272 – Ariny Bianchi. Valores: 30 reais (inteira) e 15 (meia).


Moisés Nascimento: graduado e Mestrando em Letras pela UFES. Compositor, músico e professor de literatura. Atualmente é colaborador do Portal Yah! através do blog www.portalyah.com/fragmentosnaribalta

segunda-feira, 6 de junho de 2011

5 minutos com Fernando Duarte - O encontro com o coloquialismo

Pegando carona na recente polêmica envolvendo o Ministério da Educação (MEC) e sua adoção do livro Por uma vida melhor, da coleção Viver e Aprender - que reconhece a fala coloquial como uma forma aceitável de expressão -, o nosso comentarista de música, Fernando Duarte, chama a atenção para o uso do coloquialismo na MPB. A exemplo, Fernando cita Noel Rosa (foto) como artista fundamental para o processo de inclusão das falas das ruas nas canções populares. Ouça:




Fernando Duarte escreve sobre o assunto:

A nossa música popular conquistou a liberdade de escapar de normas gramaticais e cantar com a língua falada e não com a escrita. Diferente dos gêneros praticados nos salões do Império e do início da República, a música desenvolvida pelo brasileiro dos centros urbanos no século XX trouxe o frescor do português falado pelos diversos grupos sociais.

O primeiro sopro de linguagem popular na canção urbana veio do sertão. No início do século, o maranhense Catulo da Paixão Cearense era conhecido como poeta, violonista e compositor de modinhas. Já estava radicado no Rio de Janeiro há décadas e foi a partir de seu encontro com o violonista João Pernambuco, que se interessaria pelo falar do sertanejo, colocando letra em músicas como Luar do Sertão e Cabocla de Caxangá.

Em 1922, muitos músicos nordestinos foram ao Rio de Janeiro participar das comemorações do centenário da Independência do Brasil, o que provocou um grande interesse na música da região e o aparecimento de grupos que imitavam os ritmos, vestimentas e expressões dos sertanejos nordestinos. No entanto, esse linguajar era mais usado como um recurso cômico, contrastando com as letras rebuscadas, pretendendo demonstrar cultura e erudição.

Enquanto a literatura passava pela revolução do Modernismo, a música popular ainda era um reflexo do Parnasianismo. Usualmente vindos de grupos sociais com menos acesso à cultura letrada, os compositores populares tinham pouco (ou nenhum) contato com a arte de vanguarda e se prendiam a um estilo de poesia presente nos livros escolares dos níveis básicos.

Noel Rosa, filho de classe média, que chegou a ser estudante de Medicina, foi figura fundamental do processo de incorporação da fala das ruas. Além de ter intimidade com poesia e a cultura erudita, transitava livremente pelos morros e botequins e participou do Bando de Tangarás, cantando emboladas e outros ritmos nordestinos. Sua obra deu a tônica das letras de samba nas décadas seguintes, com um estilo leve e irônico.

Duas décadas depois da morte de Noel, coube aos jovens compositores da Bossa Nova (auxiliados pelo experiente poeta Vinicius de Moraes) a continuidade do processo, trazendo para as letras das canções não só o falar da juventude, mas também um mundo de temas e sentimentos próprios. Ao superar as letras de fossa, traição e tristeza do samba-canção, a Bossa Nova abriu a música para um mundo ensolarado e de novos valores sintetizados no grito de "Chega de saudade”, uma ode aos “abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim”.


Veja o vídeo citado no comentário, onde Noel Rosa (em pé tocando violão) e o Bando de Tangarás apresentam a canção "Vamos Falar do Norte" (1929):





Fernando Duarte é musicólogo pesquisador, instrumentista, compositor e arranjador com passagem por vários grupos de choro, mpb, rock, jazz e pop.

fale com ele
e-mail:
fernandond@gmail.com

my space: www.myspace.com/fernandonduarte

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Vice Verso Sorriso :-)

Mateus Kruguer, Tina Moraes, ìtalo Galiza, Jamille Ghil e Rogério Silveira

Um programa pra sorrir, assim foi o Vice Verso desta quarta. Nossos entrevistados, a atriz Tina Moraes, que interpreta há 23 anos o palhaço Suspiro, e o facilitador de Biodanza Rogério Silveira falaram sobre o trabalho de fazer as pessoas sorrirem. E claro, Tina Moraes nos fez dar boas gargalhadas com suas piadas...

Para completar o time, o músico Matheus Krüguer marcou presença , fazendo o som do seu novo trabalho, que será lançado amanhã (02/06), às 20h, no teatro do Sesi de Jardim da Penha. Fechando a roda & aproveitando a polêmica do MEC, o comentarista de música Fernando Duarte falou sobre o coloquialismo na canção popular brasileira, no quadro 5 minutos.

Perdeu o programa? Dê uma passadinha em nosso portal, no link PODCAST, e escute o que rolou.

Segue o som... mas antes, um poema de Ferreira Gullar que não deu tempo de falar no programa:

UM SORRISO

Quando
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com minha acesa antorcha e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui embaixo?
senão colher com a repentina
mão do delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?

Elis Regina – Vou deitar e rolar

http://youtu.be/bKMSCyyOya4

Djavan – Sorri

http://youtu.be/onxtyzLhH9o

Cartola – O sol nascerá (a sorrir)

http://youtu.be/_bBid7i34XI

Adriana Calcanhoto – Eu vivo a sorrir

http://youtu.be/3aJNZ5gQ9n0

Pedro Luís e a Parede – Cabô

http://youtu.be/lc0Q03jY3qI