terça-feira, 26 de maio de 2015

Diário de bordo da Rádio Escola no Ar - parte IV

Após um breve intervalo, nosso diário de bordo volta ao ar compartilhando com vocês a prática de uma rádio escola voltada para a Educação Literária. Sim, estamos conscientes de que a nossa forma está mais próxima da Literatura que do Jornalismo; e não nos importa, neste momento, obedecer ao gênero radiofônico estabelecido historicamente. Nosso primeiro passo antes de abrir o microfone é aprender a ler & escutar  a fim de que o contato e a prática da linguagem poética sirvam de ponto de partida para o exercício criativo da linguagem.  

Penetrar no reino das palavras, conviver com os poemas, reconciliar palavra viva e palavra vivida dentro da escola, e escutar/ler  canções que nos permitam realizar uma ponte entre o público e a Literatura. Essa é a nossa proposta,  e é sobre o que trataremos no diário de hoje.

As crianças

No penúltimo post, falamos sobre o concurso de decantação (declamar canções) entre as crianças.  Porém, na oficina passada, elas não puderam comparecer porque houve reunião e foram liberadas mais cedo. Será que lembrariam de trazer suas performances após duas semanas? A resposta, surpreendentemente, é sim! Das 22 crianças, 5 estavam com seus textinhos na mão. 3 escolheram decantar Olhos Coloridos e 2 Ode aos Ratos.

Antes de iniciarmos o concurso, achamos importante projetar Ode aos Ratos na parede, explicar o que era uma Ode e trabalhar o significados das palavras; mostramos como investigá-las num dicionário on-line e fomos, coletivamente, construindo o sentido do texto. Quando a Jamilla decantou o refrão, foi um momento apoteótico! As crianças vibravam com o desafio da dicção dos “erres”, com o fôlego exigido para seguir até o final. Tente você aí dizer esses versos de uma vez só:

Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato

Nos chamou a atenção não apenas o fato de eles terem conseguido acompanhar um texto tão desafiador tanto do ponto de vista vocabular quanto de sua própria construção. Além de um aluno ter percebido a ocorrência de rimas, também notaram o som dos violinos imitando o barulho dos ratos.

Após a explicação, iniciamos o concurso. A professora, no meio da sala, transformou-se em locutora de rádio. Na frente, xs poetas devidamente apresentados aos outrxs alunxs que quiseram participar apenas como juradxs. Daí, tivemos uma conversa muito séria sobre critérios de avaliação. Xs jurados não poderiam dar uma nota pela amizade, mas de acordo com alguns critérios como: dicção, altura da voz, clareza e performance. Ao estabelecermos essas "regras", objetivamos desenvolver um ponto de vista crítico sobre as exigências da comunicação oral.

Houve nervosismo e demonstrações de preparo. Foi interessante perceber que alguns, por já conhecerem Olhos coloridos, tentaram cantá-la e não decantar, o que não ocorreu com Ode aos Ratos. Ao final, todos deram suas notas secretamente, a professora Gracinda somou tudo e o resultado foi dado. Demos chocolates como prêmio porque não há metafísica maior do que comer chocolates.

  Jamilla Ghil

Adolescentes

Abaixo, segue o relato da Duana Peixoto, nossa monitora de rádio.

Nosso encontro com os adolescentes foi voltado para a criação do roteiro e, desta vez, deixamos o tema livre para imaginarem como seria o próprio programa, desde a entonação da locução até o tema. A aula começou com a retomada do vídeo de stand up do Marcelo Adnet, conversamos com mais calma sobre as diferenças entre a locução do rádio e da televisão, e os porquês disso. Constatamos que todxs xs alunxs já ouviram uma partida de futebol pelo rádio ao menos uma vez e acharam “muito embolado”, assim como Marcelo Adnet brinca no vídeo. Além disso, pontuaram o excesso de propagandas em algumas transmissões. Já sobre a TV, comentaram que a locução nesse meio seria mais fácil por causa da imagem. Em seguida, fomos discutindo isso e comentando as vozes  marcantes da locução dos jogos.  

Para iniciarmos a criação do roteiro, pontuamos as informações que não poderiam       faltar e o que poderíamos acrescentar ou não, como: apresentação do locutor, programa, saudação, músicas, clima, horário, etc. Os dois grupos optaram por fazer um roteiro já pensando na rádio escola da Prezideu, levando em  conta até mesmo o tipo de público da manhã, as turmas do fundamental. Como tivemos, no início da aula, alguns problemas com os cabos de som, só foi possível passar  referências de aberturas de alguns programas no final da oficina. A surpresa da aula foi a    inquietação e expectativa deles para entrar no ar. Ao final, xs alunxs ficaram de retornar      na próxima semana com ao roteiro pronto.

Duana Peixoto

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