domingo, 31 de maio de 2015

Sarau Musical com André Prando e Marcos de Castro



Não fales muito
Também não cales nada
Aproveite apenas 

O paladar da madrugada
                      (Marcos de Castro, Poemas reunidos,p.138)



25 de março, última quarta do mês: o Vice Verso traz convidados para uma noite recheada de música, poesia e uma boa conversa sobre as produções capixabas e nacionais. Nossos convidados do segundo sarau musical: Marcos de Castro e André Prando. Pela segunda vez em nosso programa, o poeta e o cantor se encontraram para uma ode a estética marginal. 





Marcos de Castro é ator e poeta. Mineiro de resplendor, mas capixaba por amor - renasceu aqui no ES com sete anos, em 1976. Sobrevive - ou subvive -exclusivamente de teatro, cinema e literatura. Vez em quando faz uns bicos como professor - é licenciado plenamente para lecionar Língua e Literatura Portuguesa. Tem pelo menos 14 obras publicadas com os quais resiste e insiste na árdua e necessária missão de mudar o mundo. Pelas palavras de Jorge Mautner, Marcos de Castro é um vulcão (...) militante, ativista da imaginação literária e humanista flamejante radical.

 Juliano Rabujah, André Prando, Marcos de Castro, Aline Maria, Fernando Zorzal e Iuri Galindo



André Prando é músico e compositor. Firmou espaço na cena musical com a banda Mendigos Cientistas, logo depois gravou o Ep. Vão e lançou, no dia 01º de abril o disco Estranho Sutil, com direito a vídeo clipe e muita pala no Vice Verso. Indicamos a escuta!
 


No quadro Quem conta um ponto aumenta um conto Iuri Galindo fez uma divertida exposição de algumas crônicas da obra Pequeno discurso sobre a feiura, de Antônio Rocha Neto,
membro da Academia de Letras de Velha Velha. No fim do programa, o Vice Verso participou da 1ª Parada Gay no Rádio com canções que evocam a estética e a militância LGBT, contra o preconceito e em apoio a vida. Uma tentativa de calar a homolesbotransfobia com música!





Canções e poemas



Vestido cor maçã (Interpretação: André Prando, Composição: Augusto Debbané)

Só um toque (Autoria e performance: Marcos de Castro, obra: Poemas Reunidos)

O mundo com tudo o que há (Interpretação e composição: André Prando)

Poecria (Autoria e performance: Marcos de Castro, obra: Poemas Reunidos)
O homem (Interpretação: Raul Seixas; Composição: Raul Seixas e Paulo Coelho) - sugerida por André Prando, esta canção marcou sua escolha pela música.
Só um toque (Autoria e performance: Marcos de Castro) 
Aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor (Interpretação e composição: Raul Seixas) - sugerida por Marcos de Castro por ter marcado sua infância.




Última esperança (Interpretação: André Prando, composição: Sergio Sampaio)
Procurando buscas (Autoria e performance: Marcos de Castro, obra: Poemas Reunidos)

Inverso ano-luz (Interpretação e composição: André Prando)

Anjo Você (Autoria e performance: Marcos de Castro, obra: Poemas Reunidos)

Alto lá (Autoria e performance: André Prando)

Sozinho (Autoria e performance: Marcos de Castro)

Amiga vagabunda (Interpretação e composição:  André Prando)



1ª Parada Gay na Rádio

Cidadão-cidadã (Interpretação e composição: Jorge Mautner)

Eclipse oculto (Interpretação e composição: Caetano Veloso)

O livre atirador e a pegadora (Interpretação e composição: Gilberto Gil)
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Locução: Aline Maria e Fernando Zorzal, Produção de áudio: Juliano Rabujah, Design gráfico: Elvira Broetto, Imagens: Iuri Galindo, Revisora de linguagem: Luana Mattos, Mediadora escolar: Duana Peixoto, Produção: Jamille Ghil e Karina Caetano, Coordenação: Prof. Jorge Luiz do Nascimento.

Escrevivência - especial Carolina Maria de Jesus


(. ..) Percebi que chegaram novas pessoas para a favela.  Estão maltrapilhas e as faces desnutridas. Improvisaram um barracão.  Condoí-me de ver tantas agruras reservadas aos proletarios. Fitei a nova  companheira de infortunio. .Ela olhava a favela, suas lamas e suas  crianças pauperrimas. Foi o olhar mais triste que eu já presenciei.  Talvez ela não mais tem ilusão. Entregou sua vida aos cuidados da vida.
...Há de existir alguem que lendo o que eu escrevo dirá. ..isto é mentira! Mas, as miserias são reais.
...O que eu revolto é contra a ganancia dos homens que espremem uns aos outros como se espremêsse uma laranja.

                                                                         (29 de Maio, Carolina Maria de Jesus, Quarto de Despejo)



No dia 18 de abril de 2015, a palavra poética foi Escrevivência para evocar a luta e a obra de Carolina Maria de Jesus. Escrevicência é termo cunhado pela escritora Conceição Evaristo pra descrever a relação mais que íntima entre a escrita e a experiência de vida. 

Nascida em Sacramento, no interior de Minas Gerais, em 1914, vinda de família muito pobre, Carolina tinha sete irmãos e conheceu o mundo do trabalho bem cedo pra ajudar no sustento da casa. Estudou até o segundo ano primário. Na década de 30 mudou-se (a pé, segundo seus próprios relatos) para São Paulo, foi buscar Onde estaes felicidade, mas acabou por viver uma vida de miséria na favela do Canindé – importante cenário de seus escritos.

No Vice Verso Escrevivência falamos de uma mulher negra, pobre, catadora de papel que se tornou uma escritora mundialmente conhecida. Mãe solteira, com pouca escolaridade.  Carolina Marina de Jesus escrevia sobre o cotidiano da favela e sobre as questões sociais do seu entorno em cadernos que encontrava no lixo.

Em 1960 foi lançado seu primeiro livro, Quarto de despejo: o diário de uma favelada. O título veio de uma frase marcante de Carolina: “A favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos” (Relato de 19 de maio). O livro foi um sucesso, a tiragem inicial de dez mil exemplares se esgotou em uma semana. 





Em meio a canções de resistência e representatividade da favela compartilhamos relatos, trecho de suas obras, poemas recitados por nós e por outros. No quadro 5 Minutos, David Borges falou sobre a necessidade de desenvolver pensamento crítico para tratar de questões políticas sem se colocar como massa de manobra e reproduzir discurso de ódio e violência. 



Já no Quem conta um ponto aumenta um conto, tivemos a estreia de Elvira Broetto, nossa designer, falando sobre literatura infanto juvenil, na obra Encantamento - Contos de fada, de fantasma e de magia de Kevin Crossley-Holland.





Ouça
Fui pedir às almas santas (Interpretação: Clamentina de Jesus; composição: domínio público)

Pot-pourri (Interpretação: Elis Regina e Jair Rodrigues, no álbum Dois Na Bossa – 1965) O Morro não tem vez (Composição: Tom Jobim, Vinícius De Moraes); Esse mundo é meu (Composição: Sergio Ricardo, Ruy Guerra); Feio não é bonito (Composição: Carlos Lyra, Gianfrancesco Guarnieri)

O colono e o fazendeiro (Interpretação: Prof. Pedro Mello; autora: Carolina Maria de Jesus)

Saudosa maloca (Interpretação: Por João Bosco; composição: Adoniran Barbosa)

Santo e orixá (Interpretação: Glória Bonfim; composição: Pedro Cesar Pinheiro)

 29 de maio (Performance: Karina Caetano; autora: Carolina Maria de Jesus, na obra Quarto de despejo)

O Pobre e o rico (Interpretação e composição: Carolina Maria de Jesus)

Rap Da Felicidade (Interpretação: Mc Cidinho e Doca; composição: Julinho Rasta e Kátia)

Alma não tem cor (Interpretação: Chico Cezar; Composição: André Abujamra)

28 De Maio (Performance: Fernando Zorzal; autora Carolina Maria de Jesus, na obra Quarto de despejo)

Despejo na favela (Interpretação e composição: Adoniran Barbosa)

13 De Maio (Performance: Juliano Rabujah; autora: Carolina Maria de Jesus, na obra Quarto de despejo)

Haiti (Interpretação: Caetano Velozo; composição: Caetano Veloso E Gilberto Gil)

Carne (Interpretação: Farofa Composição: Marcelo Yuka, Seu Jorge E Wilson Cappellette)

Vedete da favela - (Interpretação e composição: Carolina Maria De Jesus)

Estatuinha (Interpretação e composição: Edu Lobo)

Sobre Todas As Coisas (Interpretação e composição: Gilberto Gil

19 De Maio - Quarto De Despejo (Performance:Aline Maria, karina Caetano e Juliano Rabujah; autora: Carolina Maria de Jesus, na obra Quarto de despejo)

Maria Três Filhos (Interpretação e composição: Milton Nascimento)

Trecho De Quarto De Despejo (Performance: Ruth De Souza; autoria: Carolina Maria De Jesus)

Poema da obra Antologia Poética, p. 174 (Performance: Aline Maria; autora: Carolina Maria de Jesus)
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Locução: Aline Maria e Fernando Zorzal, Produção de áudio: Juliano Rabujah, Design gráfico: Elvira Broetto, Imagens: Iuri Galindo, Revisora de linguagem: Luana Mattos, Mediadora escolar: Duana Peixoto, Produção: Jamille Ghil e Karina Caetano, Coordenação: Prof. Jorge Luiz do Nascimento.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Diário de bordo da Rádio Escola no Ar - parte V.I

Dando continuidade ao post anterior, falaremos agora sobre a experiência com xs adolescentes. Começamos um trabalho de elaboração de roteiro, mudando um pouco o foco da leitura para a criação e escrita. Gostaríamos de  nos debruçar mais tempo sobre a performance, dada a dificuldades de expressão oral da turma, mas a sala de aula nos mostrou que já é o momento de entrar no ar ou teremos evasão. Talvez, sensibilizá-los para a importância da leitura nasça da prática radiofônica, do tropeço ao vivo.   Será?

Pode até parecer uma imposição, mas combinamos entre as oficineiras que o roteiro é condição para entrar no ar, esse será o trato com a turma. Então, quem quiser falar, escolher as músicas e fazer sugestões precisa participar de todo o processo de elaboração. Temos que criar essa cultura entre elxs porque só improvisa, só experimenta, quem domina o assunto. E este não é o caso. Para além disso,  o roteiro é um excelente exercício que permite axs alunxs desenvolver algo fundamental : a Competência Discursiva.

De acordo com Marcos Baltar (2009, p.21),

"A competência discursiva é um amálgama da capacidade que o usuário de uma língua natural atualiza e concomitantemente desenvolve, quando participa das atividades de linguagem que ocorrem nos diversos ambientes discursivos da sociedade. Além de capacidades linguísticas, textuais e comunicativas, para viver de forma autônoma, esse usuário necessita compreender as diferentes formações discursivas e os respectivos discursos que compõem e transitam pelos ambientes discursivos dessa sociedade".


Nas ondas literárias, também navegamos ao lado da Linguística Textual e da Análise do Discurso. Trabalhamos a produção de textos com vistas à autonomia porque, em alguma citação perdida, ler é compreender o mundo, escrever é participar. E essa participação no mundo pode contribuir, acreditamos, para a compreensão dos discursos midiáticos e suas intencionalidades.

Fica aqui uma sugestão: escrever o roteiro coletivamente, projetando o texto na parede com um Datashow, por exemplo, é um excelente exercício prático e reflexivo. Todos pensando & escrevendo juntos sobre o que dizer, como dizer e para quê/quem dizer. Em outro momento, desenvolveremos melhor essa fagulha de pensamento.


A oficina
Voltamos à escola no meio da semana para resolver alguns problemas técnicos antes da oficina. Arrumamos a rádio toda, limpamos os equipamentos empoeirados, varremos, testamos as máquinas e deciframos alguns mistérios da mesa de som.  Na pausa pro cafezinho, ficamos relembrando o esforço delxs  ao rascunhar o primeiro roteiro. Escreviam, reescreviam, faziam piadas e se atinavam para a criação de uma personalidade própria. Nesse instante de inspiração,  foi importante apresentar referências de locução, como a performance de Jai Mahal, apresentador do Reggae de Bamba,  programa da Rádio Cultura Brasil. 

Na oficina de hoje, finalizamos o roteiro da aula anterior num formato bem simples,  basicamente composto por abertura, músicas e algumas informações do cotidiano escolar, como o cardápio da merenda.  Depois,  fomos para a rádio pela primeira vez!

Nosso intuito foi apresentar o espaço, agora todo arrumadinho, mostrar minimamente como funciona a rádio e já entrar no ar com esse roteiro piloto. 
A escolha das música revelou uma esperança. Levamos alguns CDs para que escolhessem as  músicas. Como eram desconhecidas por elxs  e tínhamos pouco tempo para selecioná-las  e entrar ao vivo no recreio, a aluna Mariana se engajou na leitura dos encartes para avaliar se as letras eram interessantes para tocar no programa. Seria um sinal de sensibilização pras palavras? Ainda é cedo para dizer...


Roteiro e playlist afinados, tudo pronto, só que não. Na hora "H", o microfone falhou, risos, desconcentração, fala apressada e muitos ruídos. Só foi possível tocar algumas músicas e se despedir. Embora a frustração, esse primeiro contato deu um gás nelxs, sentiram o gostinho do rádio. Empolgaram-se  com a nave  "funcionando" e  combinaram de se reunirem no recreio para afinar o que faltava no roteiro e assim chegarem na próxima edição arrasando.
  

* BALTAR, Marcos. Rádio escolar, letramento e gêneros textuais. 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Diário de bordo da Rádio Escola no Ar - parte V

Estamos de volta, mais uma atualização do nosso diário de bordo! Hoje, finalmente, iniciaremos uma nova fase com as crianças e xs adolescentes.  As cenas dos próximos capítulos incluem nossa primeira experiência no ar e, mais adiante, poderemos avaliar as diferenças de performance das duas turmas, sobretudo em função do estudo e elaboração dos roteiros. Pero, vamos por partes.

As crianças
Um dos objetivos do curso extensão Escola no Ar é conciliar os temas dos programas de rádio com os conteúdos do currículo. Por isso, conversamos com a professora Gracinda e descobrimos que ela trabalhará poesia nas próximas semanas. Lógico, demos um sorriso de orelha a orelha! Selecionamos poemas que pudessem chamar a atenção dxs alunxs pela forma e  sonoridade. O fato de a poesia ser irmã da música nos faz incluir a palavra cantada (ou canção, como preferir) na roda de leitura. Nessa aula, o objetivo foi ler textos diversos e apresentar alguns poetas. Após a leitura em voz alta, feita por nós, cada um escolheu um poema para treinar oralmente a fim de ser apresentado   no futuro programa dos adolescentes. Achamos que assim integraremos as turmas, trabalhando em duas frentes: capacitar xs adolescentes tecnicamente e na elaboração de roteiros, realização de pesquisa na internet e escolha de playlist; já as crianças aturarão como poetas.

Eis a lista dos poemas/palavras cantadas lidos:

Cecília Meireles - O rei do mar
Cecília Meireles - Ou isto ou aquilo
Carlos Drummond de Andrade - Infância
Mário Quintana - Dorme, ruazinha
Manuel Bandeira - A estrela
Manuel Bandeira - D. Janaína
Manuel Bandeira - Trem de Ferro
Manuel Bandeira - A onda
Raul Bopp - No meio do Brasil havia um rio
Vinícius de Moraes - A casa
Chico Buarque - Ode aos ratos
Toquinho - aquarela
Cartola - O mundo é um moinho
Gilberto Gil - Procissão
Gilberto Gil - Estrela
Jorge Ben - Zumbi
Adriana Partimpim - Ciranda da bailarina
Roald Dahl - História em verso para Meninos Perversos
Arnaldo Antunes - Cultura
Sérgio Sampaio - Polícia, Bandido, Cachorro, Dentista
Luiz Tait - Haicai
Hélio Hélio Ziskind e Ná Ozzetti- Lá Vem História: Plutão

Lemos todos os poemas para a galerinha e, à medida que eram feitas as leituras, escolhiam qual poema performar. Houve alvoroço, troca de textos, me dá esse, eu quero aquele.  Mas, ao final, deu tudo certo.

O exercício de leitura foi cansativo para a monitora de rádio, mas era necessário mostrar a eles uma referência de leitura oral, sobretudo daqueles textos mais sonoros. Trem de Ferro, de Manuel Bandeira, é sempre um barato de ler porque o barulho do trem está todo nos versos. Nesse caso, leitura e escuta fundem-se num mesmo instante: o ato de ler.


Um fato nos chamou a atenção: sabem aqueles alunos que nunca querem participar? E não é que do fundão surgiram algumas vozes querendo  o do bandido, professora!





Ao longo da leituras, as crianças reconheceram algumas palavras cantadas, como: Ciranda da bailarina, de Chico Buarque, e Aquarela, de Toquinho. É interessante perceber o quanto essa última segue gerações e vai se cristalizando nisso que chamamos de formação literária pela canção. Cada um de nós, ou quase todos, carregamos um verso decorado e, geralmente, é um verso musical. Ousamos dizer que a Literatura brasileira também é cantada e, por isso,  ler e  escutar  a canção brasileira podem ser uma experiência de educação literária para crianças, no contexto de uma rádio escola. É isso que estamos testando neste projeto.

As oficinas costumam ser ministradas na sala de informática, mas desta vez aconteceu na sala normal. Queríamos simular um programa de rádio para decantarem os poemas, mas não foi possível por problemas de problemas técnicos. Na semana que vem veremos se eles trarão os textos. 


Finalizando por aqui, no próximo post daremos continuidade ao diário falando sobre a experiência com xs adolescentes. Inté!