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Leia na íntegra o comentário de Marcos Ramos:
"É um prazer fazer parte desse time de colaboradores e espero que este seja um espaço bastante profícuo e de muito interesse.
Bom, eu tinha pensado em falar sobre outras coisas, mas parece que ouvi, na chamada deste quadro, um tema de jazz do Miles Davis que mudou tudo. Se não me engano é o Freddie Freeloader, do disco Kind of Blues.
Bem, como vocês sabem, o jazz tem uma relação muito estreita com a literatura e vice versa – basta lembrar dos contos do Fitzgerald ou, no Brasil, dos contos reunidos no livro “Keith Jarrett no Blue Note”, de Silviano Santiago. Mas a música do Miles Davis me lembrou outro escritor: Júlio Cortázar. O argentino era um admirador declarado de Jazz e sobre o gênero musical escreveu algumas coisas. Lembrei-me especificamente do conto El perseguidor, publicado no livro “Jogos de Armar”.
Sucintamente, o conto tem como protagonista um personagem chamado Johnny Carter (nome originado de outros dois nomes do jazz), um saxofonista jazzista, boêmio, drogado e genial. O conto é dedicado a um outro grande músico de jazz – um músico que, assim como Miles Davis, mudou a história da música e era adorado por Cortázar: trata-se de Charlie Park.
Cortázar não apenas dedica o conto ao saxofonista de Jazz, mas escreve o conto baseado na vida do músico. Bom, mas qual a relação da literatura, do jazz, do Cortázar com o programa? Por que estou falando tudo isso? Lembrei dessa história porque Charlie Parker entrou pra história da música não como Charlie, tampouco como Parker, mas como Bird – Pássaro, em português: tema do Programa ViceVerso da semana passada.
Uma conexão um tanto inusitada. Desculpe ter feito esse passeio com vocês, mas eu sou um obsessivo e não podia ter deixado de relatar essas relações que me ocorreram. Mais do que um exercício de pensamento, é um exercício condicionado pelos anos de análise.
Mas poderíamos ter tomado outro rumo: o tema do programa de hoje, a viagem pela palavra “pássaro” sugere outros passeios literários. Poderíamos começar em Olavo Bilac e seu pássaro cativo e voar para longe até a literatura contemporânea: os poemas de Manuel de Barros, de Fabrício Carpinejar ou de Casé Lontra Marques.
A verdade é que os pássaros, muitas vezes cruzando o oceano e chegando de terras distantes, estão sempre pousando aqui ou ali e, assim mesmo, sem pouso além do horizonte, sem jamais evitar asas que sustentem o próximo vôo, têm assumido, claro, significações diversas e sentidos infinitos e abissais.
O tempo é curto e pra finalizar, indicaria a vocês os livro: “Um terno de pássaros ao sul”, do Fabrício Carpinejar; “Mares inacabados”, de Casé Lontra Marques; e ainda “A Explicação dos pássaros”, de António Lobo Antunes - pra ficar entre os meus preferidos.
Repito que é um prazer fazer parte do programa e deixo um abração. Boa noite.".
Marcos Ramos é editor da Água da Palavra – Revista de Literatura e Teorias, poeta e pesquisador.Fale com ele:
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O corpo ultrapassa a parede de argamassa, mas continua
ResponderExcluirestreito, concreto, como um pulmão trancado
em crise de asma. A liberdade
vendeu as asas em troca de paisagem
Encontro um detrito
entre as pernas, apesar da velocidade dos afetos
O pássaro
que inventamos era só mais um pássaro
(Mares Inacabados, Casé Lontra Marques)
Link: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B4J3lLxwcdCsNjUzYWE0OTUtMTNmYS00NDUxLTk0MGEtMWI1Y2ZmOWI5ZGNi&hl=en