segunda-feira, 22 de março de 2010

Vice Verso entrevista Zé Celso


Eu acho que antes de tudo eu sou poeta, porque eu descobri que o poeta tem um poder enorme. Poeta é igual a poder (...). Aos 21 anos de idade foi quando eu escrevi uma peça onde eu compus uma música e depois escrevi a peça. Aí eu saquei que era um poeta no sentido grego. Os poetas, Sófocles, Ésquilo, Eurípedes, eles escreviam as peças e dirigiam os coros (...) é o que eu faço.


José Celso Martinês Corrêa, em entrevista ao Vice Verso


No último dia 7, durante o Seminário Internacional Museu da Vale, a equipe do Programa Vice Verso teve o prazer, quase orgástico, de encontrar e improvisar um bate papo poético com uma das figuras mais performática e incansável da cultura artística nacional. Ele descontroi o previsível e incomoda os conformados. Zé Celso deixa a poesia nua e chama a juventude para mostrar a cara. Dispa-se:


Vice Verso - Qual o lugar da poesia?


Zé Celso - A poesia é tudo, a poesia é o poder. A Poesia é o que caminha entre as estruturas. Poesia e poder são a mesma coisa. Rimbaud, por exemplo, é um dos maiores poderes que a Humanidade já teve. Rimbaud, Whitman, João Cabral, Oswald de Andrade é um poderoso, poderosérrimo. Ele escreveu um pequeno livro de poesias que ele chamava Poesias Reunidas, exatamente igual às indústrias Matarazzo, que eram indústrias reunidas (...) porque ele achava que a poesia dele tinha poder, e teve...de demolir paredes. Foi a poesia dele que construiu o Anhangabaú da felicidade que vai ser construída agora. Foi a poesia de Oswald de Andrade que venceu essa guerra de 30 anos.


Vice Verso - E a sua relação com a música?


Zé Celso - A música é a coisa mais importante que existe. O teatro veio da música. A primeira coisa que eu fiz foi uma música, depois escrevi uma peça em 40 minutos. Mas, eu recebi primeiro a música (...). Eu acho que o teatro é dança e a poesia é música. Por isso eu não admito mais prosa, só verso...e inverso.


"Sai do ovo, Vitória"

Jamille Ghil, Zé Celso e Ítalo Galiza


Vice Verso - E a juventude de hoje? Você acha que ela está sendo provocada, ou ela está muito apática?


Zé Celso - A juventude não está percebendo o momento extraordinário que ela tem para perverter como juventude, como primavera, com seu poder absoluto de tudo. A juventude hoje está um pouco sonâmbula, da classe média. A juventude das periferias está mais forte pela questão da própria violência, da sobrevivência. Ela que está fazendo a cultura contemporânea, pelo Rap, pelo Hip Hop. Mas a classe média está dormindo, não sabe o poder que tem. A minha juventude, que era de pequenos burgueses, se matou. Enquanto pequena burguesia ressuscitou, enquanto poeta, porque nós queríamos ser Che Guevara... ser revolucionários. E como? Como?


Vice Verso - Você falou que a poesia liberta. Mas você acredita que as pessoas sabem ler poesia? Você acha que a poesia chega até as pessoas?


Zé Celso - A poesia pressupõe você sacar de respiração, né? De ritmo. Poesia é rítmica, é respiração acima de tudo. Se você ler a poesia cerebralmente ela não existe. A poesia existe exatamente no que não está dito nas palavras que é no ritmo, na respiração.


Vice Verso - Zé Celso, muito obrigado pela entrevista. Eu gostaria que você mandasse um Alô para os ouvintes do Vice Verso. Nós temos uma frase que é o seguinte: Vitória é um ovo e a gente quer chocar, terrorismo poético já!


Zé Celso - Vitória é a coisa mais linda que existe. Eu venho de uma vitória, tô saindo de uma vitória. Vitória...sai do ovo Vitória porque você é vitoriosa , você é cidade linda (...) estou vendo aqui o seu céu azul. Vitória, Vitória, Vitória da sua paixão. Um beijo de língua no cu dos ouvintes do Vice Verso!


E para quem não entendeu o beijo, ele repete. Fala aí, Zé:











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